A gente faz retiro para muitas situações, mas já fez algum que preparasse para a morte? Não é brincadeira nem um filme dramático, mas o retiro da boa morte é um caminho proposto por Dom Bosco aos salesianos todos os meses com o objetivo de se preparar para o encontro com Deus.
Claro que não se sabia o dia e nem a forma como essa passagem para o céu aconteceria, mas era importante estar livre, em todos os aspectos, uma vez que a porta é estreita e não se leva nada, apenas o amor que cultivamos enquanto militamos nessa terra.
Como a Quaresma é um tempo de esvaziamento de si, desapego, de reconciliação, ou seja, de mudança de vida, então o retiro da boa morte é uma prática excelente para chegar às festas pascais com o essencial: amar a Jesus e ressuscitar com Ele!
Por isso, apresentamos neste post o significado do retiro da boa morte e os passos para realizá-lo nesta Quaresma.
O que é o retiro da boa morte?
É estranho imaginar que a morte é boa e ainda por cima que há um retiro para isso! Na verdade, o retiro da boa morte leva esse nome porque nos questiona sobre a fragilidade da vida, o desapego das coisas materiais e como eu me preparo para o encontro com Deus.
Dom Bosco prescreveu o exercício mensal da boa morte ou o chamado retiro da boa morte:
“O último dia de cada mês será dia de retiro espiritual; cada um fará o exercício da boa morte pondo em ordem suas coisas espirituais e temporais como se devesse abandonar o mundo e encaminhar-se para a eternidade”.
Então, qual o sentido do retiro da boa morte? É despertar na consciência a possibilidade iminente da morte. A motivação é o próprio evangelho, quando o Senhor nos pede que estejamos preparados porque não sabemos nem o dia e nem a hora.
Portanto, viver consiste também em morrer um pouco a cada dia, e isso nos pede preparação, organização interior e exterior; e para os cristãos, a páscoa pessoal é um momento feliz, de encontro com o eterno amor de Deus!
Sendo assim, como gostaria de me apresentar ao Senhor no dia em que Ele me chamar?
Benefícios do retiro da boa morte
Dom Bosco também dizia: “Temos de estar preparados, a todo instante, pois não sabemos o momento de nossa morte. E quando morrermos, como as pessoas vão encontrar nossas coisas? Vão achar tudo bagunçado? Encontrarão coisas vergonhosas?”.
Dom Bosco tinha razão! Como deixaremos as pessoas depois que partirmos? Com saudades, consoladas ou aliviadas? Isso para dizer que os benefícios do retiro da boa morte começam com a revisão de vida, a limpeza da alma, pagando as contas espirituais para chegar ao céu com o mínimo de débitos ou sem nenhum!
Por isso que o retiro da boa morte prepara também para a confissão através de um bom exame de consciência, uma revisão de vida e a celebração do sacramento da confissão. A Quaresma, portanto, é o momento propício para isso!
O retiro da boa morte também ensina sobre o desapego de bens materiais e nos empurra para o essencial. No mundo consumista, somos facilmente ludibriados a comprar, acumular e nos apegar a coisas desnecessárias, como se nossa identidade dependesse delas.
Na verdade, esse pensamento é uma grande armadilha contra a pobreza evangélica e nos torna prisioneiros de coisas, situações e até lugares. Por isso, revisitar a vida, os armários, as gavetas nos proporciona libertação, cura interior e encerra processos na nossa vida.
Viva como quem vai morrer…
Veja como é prático realizar o retiro da boa morte. Dom Bosco fazia todos os meses com os salesianos. Além deles, outros movimentos de espiritualidade também adotam essa prática com seus membros e é possível abraçar essa disciplina além do tempo quaresmal.
Os passos que apresentamos são sugestões que podem ser aprimoradas de acordo com a sua realidade. Veja o passo a passo:
- Primeiro, pergunte a si mesmo: se eu morresse hoje, estaria preparado? Como eu gostaria que as pessoas encontrassem o meu armário?
- Faça uma arrumação total, retire tudo o que você perceber que não lhe pertence mais.
- Organize suas gavetas, sua mesa de trabalho, vasculhe todas as suas coisas.
- O que não presta, jogue fora, e aquilo que você sabe que vai ajudar alguém, doe, não tenha medo de fazê-lo.
Para a confissão, retire-se particularmente. Escolha um momento, um lugar, busque o silêncio, medite a Palavra de Deus a respeito dos dois grandes mandamentos que o Senhor nos deixou e faça sua revisão de vida:
- Que partes de sua vida precisam de resolução?
- Que situações você precisa esquecer?
- Quem você precisa perdoar ou pedir perdão?
- Há tristeza em seu coração, desconfiança, decepção?
Use essas perguntas como um ponta pé inicial e faça seu retiro da boa morte. O mais importante, ou melhor, o motivo de tudo é que Deus o ama, há uma identidade cristã que o mundo precisa conhecer e que, no fim de tudo, ficará para sempre.